Carnitina. Derivado de aminoácidos adquirido através da ingestão de produtos de origem animal como carne vermelha, frango, peixe e laticínios. Também é produzida, em menor quantidade, via endógena pelo fígado, cérebro e rins. Para a produção é necessária a presença de dois aminoácidos essências L-lisina e L-metionina, assim como cofatores vitamina C, B6, niacina e ferro. Dentre suas funções está o transporte dos ácidos graxos de cadeia longa para a mitocôndria onde os mesmos serão oxidados gerando energia para o metabolismo muscular. Durante a prática da atividade física se faz necessária uma maior disponibilidade da carnitina.
Encontramos a cartinina no corpo humano na forma de carnitina livre ou na forma de acilcarnitinas. Boa parte é armazenada no músculo esquelético e no coração. A absorção ocorre no intestino e a reabsorção/excreção ocorre nos rins. Os rins são responsáveis para a manutenção do nível basal de carnitina no corpo humano. Quando a concentração plasmática aumenta a excreção renal também se eleva e vice-versa.
Duas vias metabólicas são utilizadas durante a atividade física. A via aeróbica e a via anaeróbica. A escolha da via pelo organismo vai depender da intensidade e duração do esforço muscular. Nas atividades de baixa intensidade/longa duração predomina a via aeróbica e nas atividades de curta duração/alta intensidade a via anaeróbica. As fontes de energia são provenientes, principalmente, de gorduras e carboidratos.
Nas atividades de baixa intensidade ocorre a oxidação dos ácidos graxos. A energia proveniente da gordura é utilizada poupando o uso do glicogênio muscular reduzindo desta maneira a fadiga. Já nas atividades de intensidade moderada a glicose e a gordura podem ser utilizadas e quanto maior a intensidade maior é a utilização da glicose em detrimento à gordura. Em atividades de alta intensidade o principal combustível utilizado é proveniente do glicogênio para a síntese de ATP. Durante o processo de glicólise anaeróbica o ácido lático é produzido levando a fadiga muscular.
Revisão de estudos publicada pela revista Molecules trouxe vários questionamentos em relação a segurança e eficácia da suplementação de cartinina. Muitos estudos foram realizados com o objetivo de entender o papel da carnitina no metabolismo muscular. Dentre eles o efeito no melhor desempenho, diminuição de ruptura muscular após prática de atividades extenuantes, redução dos limiares de dor muscular, capacidade aeróbica, resposta do lactato sanguíneo, mas alguns resultados foram contraditórios. A razão pode estar relacionada às características farmacocinéticas da carnitina. Um dos pontos a ser observado é que quando fornecida de forma oral a biodisponibilidade é pequena, ou seja, 5 à 15%. Também deve ser levada em consideração a função renal no processo de manutenção da concentração basal de carnitina. Quando em concentrações maiores o rim excreta o excedente na urina.
Alguns estudos relataram o efeito protetor contra ruptura muscular após atividade intensa. Outro estudo demonstrou que a suplementação aumenta o receptor androgênio muscular melhorando a sinalização proteica para recuperação após o exercício.
Um ponto crítico a ser observado é o metabolismo da carnitina pela microbiota intestinal. Na degradação da carnitina ocorre a produção de trimetilamina que é convertida em TMAO no fígado. Esse aumento de TMAO está relacionado diretamente na promoção do risco de desenvolvimento de aterosclerose aumentando desta maneira o risco cardiovascular. Assim como também está correlacionado a presença de esteatose hepática não alcoólica e doença renal crônica.
Estudo publicado na revista Microbiome demonstrou que a presença de duas bactérias conhecidas como Ihubacter massiliensis e Emergencia timonensis é peça chave para a produção de TMAO na degradação da carnitina em indivíduos com esse tipo de microbiota intestinal. Níveis plasmáticos acima de 10 μM de TMAO entram no radar para desenvolvimentos das doenças acima citadas.
O tipo de microbiota intestinal direciona a tomada de decisões clínicas onde a biodisponibilidade da administração oral de carnitina pode ser ótima em indivíduos com baixa produção de TMAO, mas o monitoramento regular de TMAO no plasma pode ser necessário em indivíduos com fenótipo para a alta produção de TMAO.
Desta maneira, fica demonstrado que são necessários mais estudos para avaliar a eficácia e a segurança a longo prazo da suplementação oral de l-carnitina.
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Fonte: Gnoni, A.; Longo, S.; Gnoni, G.V.; Giudetti, A.M. Carnitine in Human Muscle Bioenergetics: Can Carnitine Supplementation Improve Physical Exercise? Molecules 2020, 25, 182. https://doi.org/10.3390/molecules25010182
Wu, WK., Panyod, S., Liu, PY. et al. Characterization of TMAO productivity from carnitine challenge facilitates personalized nutrition and microbiome signatures discovery. Microbiome 8, 162 (2020). https://doi.org/10.1186/s40168-020-00912-y