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    Marcador inflamatório Homocisteína e sua relação com as demências e a doença de Alzheimer. Como a suplementação de vitaminas ácido fólico, B12 e B6 podem fazer a diferença?

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    O desenvolvimento da demência depende de fatores de risco modificáveis. Dentre esses fatores encontramos os fatores de risco nutricionais ou dependentes de nutrientes.

    A doença de Alzheimer é caracterizada por ser uma doença degenerativa do cérebro que, normalmente, acomete pessoas com idade mais avançada. Existe um comprometimento das funções cerebrais relacionadas a memória, linguagem e comportamento que evoluem de forma lenta levando o paciente a dependência de suas atividades. Está associada ao processo de atrofia cerebral e outras alterações do tecido cerebral, assim como deposito de proteínas anormais e morte celular.

    De acordo com a Associação Brasileira de Neurologia há cada 03 segundos temos uma pessoa diagnosticada com demência no mundo. 10 milhões de novos casos são diagnosticados por ano e a previsão é que teremos 131 milhões de pessoas com Alzheimer no mundo em 2050 onde 68% dessa parcela se encontra em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.

    Um biomarcador relevante para o risco de desenvolvimento de Alzheimer é a homocisteína. Está intimamente ligado ao estado funcional de três vitaminas do complexo B que são o folato, a vitamina B12 e a vitamina B6.

    Estudo publicado na revista Journal of Alzheimer’s Disease trouxe um consenso de especialistas voltado para uma revisão de estudos clínicos randomizados onde ficou demonstrado que a homocisteína elevada é um fator de risco para o desenvolvimento de declínio cognitivo, demência e Alzheimer em pessoal idosas.

    Níveis aumentados de homocisteína também foram associados a danos vasculares como ocorre na doença isquêmica do coração, acidente vascular cerebral e degeneração macular relacionada à idade. É provável que o comprometimento cognitivo seja causado pelo comprometimento vascular cerebral e essa insuficiência levaria à demência.

    Os principais aspectos biológicos do comprometimento cognitivo e da demência são a perda de neurônios, levando à atrofia regional do cérebro e a deposição de proteínas insolúveis, como amilóide-β em placas e a proteína Tau Fosforilada.

    O foco do estudo foi o tratamento para redução dos níveis de homocisteína com vitaminas do complexo B com o objetivo de diminuir significativamente a taxa de atrofia cerebral e também retardando o declínio cognitivo.

    Os valores de referência nos laboratórios brasileiros variam de 5 à 15 μmol/L, mas de acordo com o estudo níveis acima de 11 μmol/L já são considerados moderadamente elevados e estão relacionados ao declínio cognitivo nos idosos e consequentemente à presença de demência.

    Foi observado que a homocisteína elevada estava associada à doença de Alzheimer e demência vascular. Assim como níveis baixos de folato (também conhecido como ácido fólico) e vitamina B12 foram associadas a doença de Alzheimer.

    Importante destacar que outros fatores também estão associados ao desenvolvimento de Alzheimer. Idade avançada, hipertensão, diabetes, tabagismo, sedentarismo ou baixa atividade física, fatores de risco vascular, genótipo ApoE4, hábitos alimentares ruins. Mas o principal fator seria o nível elevado de homocisteína.

    Estudo realizado na Itália demonstrou que na medida em que a homocisteína aumentava também aumentava a incidência de demência em idosos normais. A incidência foi 5 vezes maior nos indivíduos com valores acima de 15 μmol/L.

    Na Noruega um estudo com 1.670 idosos descobriu que nos idosos onde a homocisteína aumentou no período de 6 anos em até 8 μmol/L, o teste de memória teve pontuação menor quando comparados com aqueles cujo valor da homocisteína não mudou. Por outro lado, os idosos que tiveram redução dos níveis de homocisteína abaixo de 6 μmol/L durante o período de 6 anos, a pontuação média do teste de memória foi maior.

    Dois ensaios onde participaram 2.825 indivíduos, o declínio cognitivo foi avaliado no grupo que recebeu a suplementação com vitamina, assim como o grupo placebo. Foi observado efeitos cognitivos benéficos significativos no grupo tratado com vitamina B que tinha homocisteína elevada ou deficiência de vitaminas do complexo B.

    O ensaio FACIT recrutou 818 idosos cuja homocisteína estava na faixa de 13 à 26 μmol/L. Receberam suplementação de 0,8 mg/dia de ácido fólico durante 3 anos, o que levou a uma queda de 26% na homocisteína em comparação com o grupo do placebo. O tratamento com ácido fólico retardou o declínio no processamento de informações e o efeito foi maior nos participantes com homocisteína basal acima da mediana. O grupo que suplementou mostrou uma melhora maior nos escores de memória do que o grupo placebo e também houve uma melhora nos escores de função cognitiva global. Os autores estimaram que o tratamento com ácido fólico deu aos indivíduos um desempenho de alguém 4,7 anos mais jovem para a memória, 1,7 anos mais jovem para a velocidade sensório-motora, 2,1 anos mais jovem para a velocidade de processamento de informações e 1,5 anos mais jovem para a função cognitiva global. Esses resultados mostram que a redução da homocisteína pode retardar algumas das mudanças cognitivas que ocorrem no envelhecimento natural.

    Outro ensaio clinico realizado nos EUA com 340 participantes com diagnóstico provável de Alzheimer teve com protocolo de suplementação 5mg de ácido fólico, 1 mg de B12 e 25 mg de B6 diariamente por 18 meses. No final do estudo observou-se que houve uma redução em 26% dos níveis de homocisteína.

    No estudo VITACOG os indivíduos foram suplementados com 0,8mg de ácido fólico, 0,5 mg de B12 e 20mg de B6 diariamente por 02 anos. Os níveis de homocisteína tiveram redução em 30,2% e a taxa de atrofia cerebral observada em ressonância foi de 29,6% quando comparadas ao grupo placebo.

    O efeito da suplementação foi expressivo no grupo que tinha níveis acima de 13 μmol/L de homocisteína onde ficou demonstrado uma redução de 53% na taxa de atrofia cerebral. O tratamento com as vitaminas retardou e/ou preveniu o declínio cognitivo em pessoas com homocisteína acima da mediana para memória episódica, memória semântica e cognição global. Uma análise posterior mostrou que o tratamento com vitamina B diminuiu significativamente, em 88,5%, a taxa de atrofia das regiões do cérebro que são mais gravemente afetadas na doença de Alzheimer. O ensaio demonstrou que o tratamento com vitaminas ácido fólico, B12 e B6 media a desaceleração da atrofia cerebral regional e consequentemente a desaceleração do declínio cognitivo.

    Posteriormente foi observado que os indivíduos que tinham bom status de ômega 3 se beneficiaram da suplementação de vitamina B sugerindo que nos próximos estudos poderá ser feita também uma associação com a suplementação de ômega 3 para melhores resultados.

    Indivíduos com homocisteína elevada devem receber suplementação de vitaminas com complexo B. O valor acima de 13 μmol/L pode ser usado como valor de corte para se obter benefícios clínicos com a suplementação. Benefícios cognitivos foram demonstrados no estudo VITACOG em níveis na faixa de 11–13 μmol/L e níveis acima 11 μmol/L foi o ponto de corte no qual a atrofia significativa do lobo temporal medial foi detectada no estudo OPTIMA.

    Além disso, uma concentração de 11 μmol/L foi o limite para a associação de homocisteína, a incidência de demência. Caso esses últimos achados sejam confirmados, um limite entre 10 e 11 μmol/L pode ser mais apropriado.

    A dosagem de homocisteína é importante nos pacientes que relatam perda de memória. A suplementação quando indicada pelo profissional é uma forma acessível de tratamento para diminuir os níveis de homocisteína e consequentemente diminuir a taxa de pessoas com quadros de demência, Alzheimer e o melhorar o próprio processo natural de envelhecimento.

    As informações contidas no site são baseadas em artigos científicos e tem caráter educativo. Não pretendem substituir a consulta por profissional da área da saúde.

    Fonte: Smith AD, Refsum H, Bottiglieri T, et al. Homocysteine and Dementia: An International Consensus Statement. J Alzheimers Dis. 2018;62(2):561-570. doi:10.3233/JAD-171042

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    2 COMENTÁRIOS

    1. Eu entendi que vitaminas do complexo B são importantes para o equilibro do aminoácido homocisteína, logo importante empreender na prevenção. No caso de aconselhamento seria interessante aos jovens idosos efetuarem levantamento com relação ao atrofiamento do cérebro e alterações de memória.

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